Normalmente, quando um carro é levado à oficina com uma luz de advertência acesa ou algum problema detectado, o mecânico utiliza um dispositivo de diagnóstico para conectar ao veículo e examinar o código exibido na tela. Esse código é conhecido como código de falha ou DTC (sigla em inglês para “Diagnostic Trouble Codes”).
O código de falha, também conhecido como código de defeito, é uma ferramenta eletrônica que utiliza um sistema de autodiagnóstico para indicar qual parte ou função específica do veículo está com algum problema, sem a necessidade de desmontar peças para identificar a falha. É importante destacar que o código de falha associado a uma determinada peça, como a “X”, não implica necessariamente na substituição direta dessa peça, pois o problema pode estar relacionado a componentes auxiliares que interagem com a peça “X”, ou até mesmo no sistema elétrico do veículo.
O autodiagnóstico, também conhecido como OBD (sigla em inglês para “On Board Diagnostics”), desempenha o papel de um médico, identificando os “problemas de saúde” do veículo por meio de códigos de falha.
Inicialmente desenvolvido para monitorar e controlar a emissão de gases poluentes dos veículos, o OBD ganhou popularidade não apenas por esse controle, mas também pela sua eficiência na identificação de problemas durante os reparos.
A partir de 1996, tornou-se comum em veículos leves, seguido pelos veículos pesados em 2004. No Brasil, tornou-se obrigatório em 2010, agilizando os processos de reparação e simplificando os diagnósticos nas oficinas mecânicas.
A estrutura típica de um código de falha consiste em cinco dígitos, sendo o primeiro uma letra seguida por quatro números, conforme a norma atual estabelecida pela SAE J2012.
Estrutura padrão de um código de falha
DÍGITO 1 – Identificação do sistema O primeiro dígito identifica o sistema do veículo e pode ser:
“B”, de “Body” (Corpo): Representa os sistemas localizados no interior do veículo, como ar-condicionado, airbag, sistema de áudio e travamento de portas.
“C”, de “Chassis” (Chassi): Representa os sistemas localizados na estrutura básica do veículo, como freios, direção, suspensão e tração.
“P”, de “Powertrain” (Grupo Motriz): Representa os sistemas de propulsão do veículo, incluindo motor e transmissão.
“U”, de “Network” (Rede): Representa os sistemas do computador de bordo e suas funções, como comunicação entre os sistemas eletrônicos e problemas na parte elétrica.
DÍGITO 2 – Especificidade da montadora O segundo dígito indica se o código de falha é genérico ou específico da montadora.
Se o segundo dígito do código for 1, significa que é específico da montadora. Caso contrário, é genérico, conforme indicado na tabela.
Powertrain | Body | Chassi | Network |
---|---|---|---|
P0000 ao P0FFF | B0000 ao B0FFF | C0000 ao C0FFF | U0000 ao U0FFF |
P2000 ao P2FFF | B3000 ao B3FFF | C3000 ao C3FFF | U3000 ao U3FFF |
P3400 ao P3FFF |
Tomando como exemplo o código de falha P0300, tanto na Fiat quanto na Volkswagen, ele indica “Falha na Combustão de Cilindros Múltiplos”. Este padrão é mantido mesmo entre diferentes montadoras, como evidenciado pelo segundo dígito, que é 0, seguindo a norma estabelecida.
No entanto, ao analisar o código P1570, percebe-se uma diferença significativa entre as montadoras. Na Fiat, este código representa “Falha no Sensor do Pedal do Acelerador”, enquanto na Volkswagen é interpretado como “Partida do Motor Bloqueada por Imobilizador”. Essa discrepância ocorre devido ao segundo dígito ser 1, permitindo que cada montadora atribua seu próprio significado ao código.
Uma dica importante é que os códigos que começam com “P0”, “P2” ou a partir de “P3400” seguem um padrão estabelecido pela norma e são uniformes para todos os veículos. Assim, se você se deparar com um código dentro desses padrões, poderá esperar o mesmo resultado em qualquer modelo de carro.
DÍGITO 3 – Identificação do subsistema O terceiro dígito fornece informações sobre qual subsistema foi afetado pela falha.
A norma não especifica subsistemas para as letras B, C e U. No entanto, a letra P, associada ao motor e à transmissão, é detalhada pela norma da seguinte maneira:
0 – Relacionado a combustível, medição de ar e sistemas de emissão auxiliares. 1 – Relacionado a combustível e medição de ar. 2 – Relacionado a combustível, medição de ar e circuito injetor. 3 – Relacionado a sistemas de ignição ou falhas de combustão. 4 – Relacionado a sistemas de emissão auxiliares. 5 – Relacionado a sistemas de controle de velocidade e marcha lenta. 6 – Relacionado a computador e saídas auxiliares. 7 a 9 – Relacionado a transmissão. A, B, C e D – Relacionado a propulsão híbrida.
DÍGITOS 4 e 5 – Caracterização da falha Os dois últimos dígitos indicam a natureza específica da falha, fornecendo orientações precisas ao reparador para diagnosticar o defeito com maior precisão.
A precisão de cada dígito do código de falha pode variar de 00 a FF, pois é baseada no sistema de numeração hexadecimal. Enquanto a numeração decimal representa números na base 10, a numeração hexadecimal representa números na base 16.
Assim como no sistema decimal, quando o algarismo mais à esquerda atinge o último algarismo da base, ele aumenta uma unidade e a contagem continua, conforme demonstrado na tabela a seguir.
Decimal | Hexadecimal | Decimal | Hexadecimal |
---|---|---|---|
1 | 1 | 17 | 11 |
2 | 2 | 18 | 12 |
3 | 3 | 19 | 13 |
4 | 4 | 20 | 14 |
5 | 5 | 21 | 15 |
6 | 6 | 22 | 16 |
7 | 7 | 23 | 17 |
8 | 8 | 24 | 18 |
9 | 9 | 25 | 19 |
10 | A | 26 | 1A |
11 | B | 27 | 1B |
12 | C | 28 | 1C |
13 | D | 29 | 1D |
14 | E | 30 | 1E |
15 | F | 31 | 1F |
16 | 10 | 32 | 20 |
A eletrônica optou pelo formato hexadecimal porque, com apenas 2 dígitos, é possível representar 256 combinações numéricas (de 00 a FF). Em contraste, no formato decimal, com 2 dígitos, só é possível representar 100 combinações (de 00 a 99).
Não existem códigos desconhecidos para os quais o fabricante não saiba o significado. No entanto, nem sempre as informações relacionadas a esses códigos estão disponíveis nos equipamentos convencionais. Quando você conecta um scanner ao veículo e recebe uma mensagem genérica, como “código desconhecido”, isso pode acontecer porque a montadora não forneceu a documentação técnica ao fabricante do scanner, ou seja, o código foi encontrado no banco de dados, mas sem uma descrição adequada. Para descobrir o significado de um código de falha desconhecido que aparece na tela do seu scanner, você pode recorrer a serviços de empresas que possuem milhares de códigos traduzidos, inclusive aqueles que não são reconhecidos pelos scanners convencionais.
Agora que você está familiarizado com a estrutura de um código de falha, torna-se fácil compreender a origem de todas as letras e números exibidos no seu scanner.