No Brasil, a construção civil é o setor que registra o maior número de mortes entre os trabalhadores. No entanto, o setor de comércio e serviços lidera em termos de acidentes anuais, com mais de 330.000 incidentes relatados. Entre as empresas deste setor, as oficinas de reparação automotiva são as que contabilizam o maior número de casos, chegando a cerca de 100.000 por ano.
Existem diversos motivos para esse alto índice de acidentes nas oficinas de reparação, sendo a negligência em relação às normas de segurança um dos principais fatores. Essas normas são projetadas para proteger os trabalhadores do setor, mas muitas vezes são ignoradas. A falta de atenção também desempenha um papel significativo, pois os reparadores às vezes subestimam os riscos envolvidos em seu ambiente de trabalho, o que pode levar a acidentes. Além disso, a não utilização adequada de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), infelizmente, ainda é comum na indústria e contribui para a ocorrência de acidentes, bem como para agravar suas consequências.
Segundo Dra. Andreia Fuchs, estudos demonstram que os problemas que mais afetam à saúde, assim como, a segurança dos mecânicos, são: traumas e lesões e as doenças do sistema músculo esqueléticos, como a Lesão por Esforço Repetitivo (LER)2 e as Doenças Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho (DORT). De acordo com a fisioterapeuta, os sintomas mais comuns são: dores de cabeça, ombros, pernas e costas, seguidas de câimbras, sensação de formigamento, dormência, cansaço maior que o normal durante a jornada de trabalho, sensação de peso nos membros, fadiga muscular acompanhadas ou não de perda de força muscular.
Já os principais acidentes que podem ocorrer dentro de uma oficina são:
- Acidentes / cortes gerados pelo manuseio de ferramentas ou fragmentos de peças danificadas;
- Ferimentos causados por ar ou água sob pressão;
- Lesões oculares por corpo estranho;
- Acidentes de trânsito durante teste de veículos;
- Quedas relacionadas a condições de pisos;
- Acidentes com máquinas manuais motorizadas;
- Queda de materiais sobre o corpo;
- Acidentes com equipamentos para elevação de veículos;
- Queimaduras por: contato com superfícies aquecidas, incêndios, explosões de tanques ou do mau armazenamento e manuseio de combustíveis;
- Choques elétricos;
- Exposição ao ruído excessivo: em algumas circunstâncias, os níveis de ruído podem atingir valores em torno de 110 dB(A). Na dependência do tempo de exposição diária, níveis acima de 85 dB(A) podem lesionar o aparelho auditivo;
- Exposição a vibrações por manuseio de ferramentas manuais motorizadas;
- Exposição a radiações ultravioleta e infravermelha em operações de corte e solda;
- Intoxicação crônica, a exposição a gases e substâncias provenientes de emissões da combustão incompleta de gasolina e de óleo diesel;
- Esforço físico excessivo no manuseio de cargas, levantamento de peso excessivo. Em tempo, a Dra. Andreia Fuchs3 lembra que o artigo 198 da CLT, estipula que o peso máximo que um trabalhador pode carregar individualmente é: 60 kg para o homem e 25 kg para mulher. Já a NR-17, diz que nenhum trabalhador pode exercer força cujo peso for susceptível a comprometer sua saúde e segurança. No entanto a acima citada profissional afirma que o limite de segurança no levantamento de peso ou transporte de objetos e peças, não deve exceder 10% do peso corporal do indivíduo, a fim de prevenir a incidência de doenças ocupacionais acima citadas;
- Manipulação de substâncias químicas, utilizadas para limpeza de peças.
A responsabilidade pela prevenção recai sobre todos, principalmente sobre o trabalhador, pois em caso de um acidente, ele é quem sofrerá as consequências diretamente. No entanto, a prevenção também é uma obrigação do empresário, uma vez que as repercussões de um acidente não afetam apenas o trabalhador, mas têm impactos que se estendem a toda a empresa. Isso inclui custos significativos, compromissos de manutenção do emprego, obrigações de indenização e, em casos graves, até mesmo o risco de fechamento da empresa. Portanto, a prevenção não deve ser vista como um mero requisito burocrático, mas sim como uma responsabilidade fundamental da administração.
Com o objetivo de auxiliar na proteção dos profissionais da reparação automotiva, bem como dos empresários do setor, apresentamos algumas recomendações que podem tornar o exercício dessas atividades mais seguro:
- Garantir o uso e disponibilidade dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) apropriados para a atividade, com ênfase em óculos e calçados de segurança.
- Evitar a realização de reparos em veículos com o motor quente, a menos que seja estritamente necessário e não apresente riscos de queimaduras.
- Desligar sempre o polo negativo da bateria antes de realizar procedimentos ou reparos no motor e seus componentes.
- Estabelecer comunicação clara e precisa ao trabalhar em equipe, antecipando as ações planejadas, seja para ajustar o freio de mão ou instalar um motor.
- Priorizar a execução de procedimentos no tempo necessário, evitando pressa excessiva.
- Utilizar dispositivos de segurança em equipamentos e substituí-los quando necessário, como ganchos com corrente em compressores de molas e correntes de amarração em macacos hidráulicos de transmissão.
- Optar por alternativas biodegradáveis e igualmente eficazes aos derivados de petróleo, como gasolina ou diesel, na limpeza de peças, minimizando impactos no trabalhador e no meio ambiente.
- Evitar a operação de motores em espaços desprovidos de ventilação adequada, limitando o tempo de exposição quando inevitável.
- Abster-se de usar produtos que promovam a “limpeza” do motor durante o funcionamento, pois a fumaça resultante pode ser altamente tóxica.
- Manter o ambiente de trabalho bem iluminado e limpo, na medida do possível.
- Manter níveis elevados de atenção e concentração, deixando preocupações pessoais fora do local de trabalho.